Uma em cada três cidades brasileiras carece de drenagem pluvial

Estudo indica uma série de fragilidades na infraestrutura dos municípios e sugere que investimentos anuais dobrem para prevenção a desastres. Na imagem, a grande enchente de Porto Alegre, em maio de 2024/Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Por ClimaInfo

Quando fortes chuvas caem sobre cidades densamente habitadas, provocando caos e prejuízos de diversas ordens, não raramente é atribuída a elas a culpa pelos danos. É fato que os eventos climáticos extremos têm se tornado mais frequentes, uma tendência que só deve se multiplicar, mas o destino dessas águas resulta sobretudo das políticas públicas que não se intensificam na mesma medida. É o que destaca um estudo recente do Instituto Trata Brasil. De acordo com os dados, a situação da infraestrutura de drenagem urbana no país pode ser considerada alarmante.

Entre 1991 e 2023, o Brasil registrou 25.940 desastres hidrológicos, que causaram 3.464 mortes e prejuízos econômicos superiores a R$ 151 bilhões. O diagnóstico do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA) 2025, com base em dados de 2023, aponta que 95% dos municípios brasileiros não possuem Planos Diretores de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais (PDD), instrumento fundamental para o planejamento preventivo.

A fragilidade institucional do setor fica evidente ao constatar-se que apenas 18% das 105 agências reguladoras de saneamento no país (19 no total) têm atribuições específicas para fiscalizar a drenagem urbana.

Embora os investimentos médios no setor tenham ficado em torno de R$10 bilhões anuais entre 2017 e 2023, especialistas indicam que será necessário mais do que o dobro deste valor, R$22 bilhões por ano, a fim de alcançar a universalização dos serviços até 2033.

Ausência de drenagem e redes exclusivas

O Diagnóstico Temático para Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas (DMAPU) do SINISA, utilizado no estudo, contou com dados de 4.958 municípios (89% do total) e mostrou que 32,5% das cidades não possuem qualquer sistema de drenagem, enquanto apenas 40,4% têm redes exclusivas para águas pluviais.

A situação é ainda mais crítica no que diz respeito ao tratamento dessas águas: apenas 3,2% dos municípios (157 no total) informaram ter sistemas de tratamento, essenciais para reduzir impactos ambientais. Além disso, embora 78% das vias urbanas tenham pavimentação, apenas um terço conta com redes ou canais pluviais subterrâneos.

O diagnóstico também alerta para os riscos climáticos, já que cerca de metade dos municípios brasileiros estão classificados com risco alto ou muito alto para eventos hidrológicos extremos até 2030. Com as mudanças climáticas intensificando chuvas e tempestades, muitas cidades estão ainda mais vulneráveis a enchentes e alagamentos. Esse contexto reforça a urgência de políticas públicas robustas e investimentos consistentes em drenagem urbana.

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