
Por Claudia Guadagnin
A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), atuante há 40 anos na conservação da biodiversidade da Mata Atlântica, inovou mais uma vez ao unir arte, música e educação para a conservação, em uma ação para antecipar a celebração do mês dos psitacídeos.
Nas últimas duas semanas do mês de abril, a SPVS comemora a semana dos psitacídeos. Desde 2018, ela acontece na terceira semana de abril, por definição do Ministério do Meio Ambiente. Este ano, a instituição, e mais 15 entidades parceiras, celebram a semana. Além disso, vale lembrar, o dia 31 de maio homenageia nacionalmente a importância de espécies como papagaios, periquitos e araras, entre outros.
Com o apoio e a parceria direta da Fundação Loro Parque, apoiadora do projeto desde a década de 1990, a SPVS lançou, às 12h do dia 25 de abril, na última sexta-feira, a música e o clipe Moda do Papagaio-de-cara-roxa para valorizar o papagaio-de-cara-roxa, espécie que é objeto prioritário do projeto de conservação iniciado no final da década de 1990 e realizado no litoral do Paraná.
A novidade, além de entreter, serve como importante ferramenta de conscientização sobre a preservação da espécie e de seu habitat. O clipe pode ser visto aqui. Segundo o último censo, 9 mil exemplares de papagaios-de-cara-roxa encontram-se hoje na natureza, concentrados em uma dúzia de dormitórios coletivos.
A ideia que ganhou vida
Rafael Sezerban, coordenador de projetos na SPVS e autor da música, conta que a ideia surgiu da necessidade de aproximar o conhecimento do público sobre a espécie e as histórias da Mata Atlântica.
“A criação da música e do clipe aconteceu a partir da vontade de dar voz à natureza. Ao percebermos a possibilidade de integrar essa linguagem artística com os vídeos do projeto, vimos uma oportunidade única de engajar a comunidade e disseminar informações sobre o papagaio-de-cara-roxa de forma lúdica e acessível”, diz.
A gravação da música e do clipe contou com a participação direta e ativa das equipes da SPVS, além de moradores e colaboradores locais, reforçando a ideia de que, assim como os papagaios – que vivem em grandes bandos e demonstram uma forte característica de sociabilidade – a conservação da natureza e a manutenção do projeto com qualidade permanente são responsabilidades coletivas.
O processo de gravação
Ao falar sobre os bastidores da produção, Rafael explica que a gravação da música ocorreu em um ambiente colaborativo, repleto de entusiasmo e compromisso com a causa.
“A gravação foi feita em um estúdio que já tinha uma energia contagiante. Nele, reunimos profissionais talentosos, além dos nossos colegas da SPVS, que se mostraram super dedicados. Incorporamos também a participação da comunidade, reforçando a ideia de que todos fazemos parte deste grande bando em prol da conservação”.
Para Rafael, o envolvimento dos moradores simboliza a união entre a natureza e a cultura local, evidenciando que a proteção do papagaio-de-cara-roxa passa pelo reconhecimento e pela valorização das pessoas que vivem nas regiões onde essa biodiversidade se manifesta.
O clipe foi dirigido pelo videodocumentarista e parceiro da SPVS, Gabriel Marchi, responsável também por produções audiovisuais da Grande Reserva Mata Atlântica. Sua direção destaca imagens que capturam a beleza e a singularidade da região do Lagamar, do papagaio e do bioma como um todo. A partir do dia 25 de abril, a música também estará disponível no Spotify, permitindo que o público possa ouvi-la a qualquer hora e lugar.
Importância da música e do clipe para o projeto
Elenise Sipinski, coordenadora dos projetos de fauna da SPVS e do projeto do papagaio reforça a ideia de que a união entre arte e educação é essencial para transformar a visão da sociedade sobre a natureza.
“Esta música e clipe representam muito mais do que uma produção audiovisual: são ferramentas de educação para a conservação, que sensibilizam, informam e engajam o público sobre a importância de preservar não só os papagaios-de-cara-roxa, mas também seu habitat natural – a exuberante Mata Atlântica”, explica.
Ela ressalta que a canção, que descreve de forma didática as características do papagaio – desde seu comportamento e dieta até os cuidados parentais – funciona como uma verdadeira aula de história natural.
“Quando ouvi a música, visualizei um clipe que tornasse o conhecimento sobre o papagaio ainda mais acessível, enfatizando seu esforço para sobreviver e se reproduzir mesmo diante das ameaças diárias, como o roubo de filhotes [uma realidade cruel com a qual a espécie ainda se depara] ou mesmo a predação na natureza. A obra é uma homenagem à natureza e um chamado à ação contra práticas ilegais que colocam em risco a nossa biodiversidade”, completa.
Impacto e perspectivas futuras
Para os idealizadores, o lançamento da música e do clipe não se resume a um momento artístico, mas representa uma estratégia de comunicação com vários desdobramentos:
- Envolvimento social: ao fortalecer o vínculo entre a comunidade local, as equipes de trabalho e os conservacionistas, a produção reforça a importância do cuidado coletivo com o meio ambiente e suas espécies endêmicas.
- Educação para a conservação: com ações planejadas para escolas, redes sociais e meio de comunicação do litoral, o projeto amplia o alcance da mensagem de conservação da espécie.
- Promoção da biodiversidade: ao valorizar as especificidades do papagaio-de-cara-roxa e a riqueza da Mata Atlântica, a produção contribui para o orgulho local e o incentivo à preservação dos ecossistemas brasileiros.
Gabriel Marchi, o autor das imagens, montagem e direção do clipe, destaca que o objetivo do trabalho foi chamar a atenção para a beleza e fragilidade da ave e da região do Lagamar. “Queremos que, ao assistir o clipe, as pessoas se conectem com a natureza e entendam que cada atitude conta na luta contra a extinção. Essa iniciativa é um convite para que todos se unam em prol da conservação da fauna, da flora e das nossas raízes naturais”.
“O lançamento da ação ressalta o compromisso da SPVS com a conservação e a valorização da biodiversidade, utilizando a arte como ferramenta transformadora para sensibilizar e engajar a sociedade na proteção do patrimônio natural brasileiro”, conclui.
Sobre o papagaio-de-cara-roxa e os ninhos artificiais
Implementado em 1998 no litoral norte do Paraná e executado desde 2013, o Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa da SPVS contribui para a conservação da espécie no seu habitat natural, a Mata Atlântica, em consonância com o Plano de Ação Nacional (PAN) de Conservação dos Papagaios até 2023 e, atualmente, com o PAN das Aves da Mata Atlântica.
Os papagaios-de-cara-roxa constroem seus abrigos, preferencialmente, em árvores antigas, como os guanandis. Por meio dos esforços da SPVS de monitoramentos dos sítios reprodutivos da espécie, observou-se que o vento e a chuva derrubavam os ninhos, bem como a exploração de árvores de forma ilegal na floresta. E para suprir a carência de abrigos naturais, a partir de 2003, a instituição passou a instalar ninhos de madeira e PVC em sítios reprodutivos prioritários para a espécie. O papagaio aceitou de forma muito positiva a ação de manejo, transformando a iniciativa da SPVS de incremento à reprodução em um verdadeiro sucesso. As aves se adaptaram tão bem aos ninhos que, atualmente a maioria dos ninhos instalados, nos principais sítios reprodutivos, são ocupados todos os anos pelos papagaios.
Isso contribuiu para que a espécie se reproduzisse mais e, a partir de 2015, a equipe técnica do projeto começou a registrar um número maior de aves usando os dormitórios coletivos no litoral do PR (acima de sete mil papagaios), resultado sempre comemorado por indicar uma tendência de recuperação da população nessa região.
Por anos, o papagaio-de-cara-roxa esteve na lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção na categoria “Vulnerável”. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), atualmente está na categoria “Quase Ameaçada”.
Toda a planície litorânea onde vive o papagaio-de-cara-roxa faz parte da Grande Reserva Mata Atlântica, uma área que reúne três milhões de hectares de floresta nativa, localizada entre os Estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. O território é um importante patrimônio natural, cultural e histórico e um valioso e singular destino de turismo de natureza, nacional e internacional.
Assista ao videoclipe:
Para saber mais e conferir a lista completa das organizações envolvidas na celebração da Semana dos Psitacídeos, acesse as redes sociais da SPVS.