Sem o governo, devastação no Cerrado pode ser monitorada pela sociedade civil

Cerrado é um dos biomas mais importantes do País/Foto: Rogean James Caleffi/Unsplash

Representantes do Projeto MapBiomas afirmaram na segunda-feira, 10 de janeiro, que contam com um sistema de alertas de desmatamento no Cerrado que pode entrar no ar imediatamente caso o governo decida enterrar os programas de sensoriamento remoto do bioma, o Prodes-Cerrado e o Deter-Cerrado.

Na semana passada, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) anunciou que, por falta de verbas, interromperá o monitoramento por satélites do desmate no segundo maior bioma do país a partir de abril.

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O motivo alegado é falta de verbas: o instituto não tem R$ 2,5 milhões em seu orçamento para realizar o trabalho, feito desde os anos 2000 com recursos de um convênio com o Banco Mundial que expirou. A equipe responsável pelo Prodes (que dá as taxas anuais) e pelo Deter (que faz o monitoramento em tempo real) já foi desmobilizada.

Para comparação, o monitoramento da savana mais biodiversa do mundo, onde nascem as principais bacias hidrográficas do País, custa por ano o que o presidente Jair Bolsonaro gastou durante suas férias. É metade do que custaram ao contribuinte brasileiro as motociatas promovidas pelo presidente em apoio a si mesmo durante a pandemia.

Preocupação

Em nota pública, o MapBiomas, consórcio formado por duas dezenas de ONGs, universidades e empresas de tecnologia disse ver “com preocupação” que os sistemas do Inpe estejam ameaçados de descontinuidade por falta de recursos.

“Atenta aos sinais de que tal cenário pudesse acontecer, a equipe do MapBiomas vem desenvolvendo um Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) específico para o Cerrado, que pode ser ativado a qualquer momento para garantir o monitoramento do desmatamento no bioma”, afirmou o MapBiomas. “Esperamos que a ameaça de paralisação do Prodes e do Deter Cerrado não se concretize e que o trabalho de excelência realizado pelo Inpe continue a ser apoiado e valorizado. Mas, se isso acontecer, faremos todo o possível para que o monitoramento seja garantido e disponível a toda a sociedade por meio do SAD Cerrado.”

Pastagens e monoculturas

O último dado do Prodes Cerrado, publicado sem alarde no site do Inpe, no fim do ano passado, mostrou um aumento de 7,5% na devastação do bioma em 2021. No ano passado, 8.531 km2 de Cerrado viraram fumaça, quase tudo para ceder lugar a pastagens e monoculturas como a soja.

“O apagão de dados do Cerrado era uma possibilidade real desde o ano passado. O governo sabia do risco e decidiu não agir, o que só permite concluir que, mais uma vez, se trata de uma ação deliberada do regime Bolsonaro para impedir que a sociedade tenha acesso a informações cruciais, como fez com os dados de Covid”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“Felizmente a sociedade civil brasileira está mobilizada para disponibilizar os dados com acurácia e de forma gratuita para todos. Mesmo que o governo enterre o sistema do Inpe, os brasileiros e o resto do mundo saberão o que está acontecendo no Cerrado. Também como ocorreu com os números de Covid, reportados por um consórcio de veículos de imprensa, a tentativa do governo de esconder a informação não vingará. O Brasil é maior do que Bolsonaro e seus desmandos.”

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