Brasileira explica tratado global de oceanos e expedição internacional que chegará aos corais da Amazônia

Brasileira Júlia Zanolli acompanha negociação de tratado global de oceanos/Imagem: Reprodução/Youtube

Uma campanha da organização ambiental Greenpeace em prol de oceanos é representada pela brasileira Júlia Zanolli em Nova York, durante a conferência intergovernamental que negocia o tratado global de oceanos.

Neste Destaque ONU News, a entrevistada, que atua pela organização não governamental, fala sobre a iniciativa em que participa o ator espanhol Javier Bardem. Zanolli também comenta a respeito de uma expedição internacional que chegará aos corais da Amazônia.

Você pode nos explicar sobre exatamente o que está se falando aqui nas Nações Unidas?

Júlia Zanolli: O que está sendo discutido aqui é um Tratado Global de Oceanos, que poderia proteger até 30% dos mares até 2030. Hoje, não existe um instrumento para proteger as águas que estão além dos limites, das fronteiras dos países. Então o que a gente espera dessas negociações é que as lideranças mundiais aprovem um Tratado Global de Oceanos forte que seja capaz de criar áreas marinhas protegidas, ou santuários marinhos onde os animais possam se recuperar e onde a gente possa ter áreas que são livres de atividades humanos prejudiciais. E a gente precisa de um tratado global forte que nos permita fazer isso.

Reunir 193 países e vocês, como uma das maiores organizações ambientais, portanto, é um assunto que leva muito debate, muita conversa. Nós conhecemos alguns dos desafios dos oceanos: são os plásticos, a questão dos desperdícios, a questão dos navios, mas o que é que em nível individual cada um de nós pode fazer para chegar até lá?

Eu acho que em primeiro lugar, nós precisamos repensar nossa relação com o planeta. Esse modelo de consumo atual não é sustentável e estamos fazendo com o que o planeta chegue ao limite. A questão dos plásticos naturalmente é muito importante, mas acho que nesse momento o que a gente pede para as pessoas é que pressionem seus governos para que se comprometam com a proteção do meio ambiente e, especificamente, dos oceanos, porque sabemos que quando os representantes, os delegados que estão aqui na ONU durante essas negociações voltarem para casa, terão que lidar com uma pressão das pessoas pedindo pela proteção dos oceanos. Isso faz muita diferença. Temos uma petição disponível para quem quiser assinar e cobrar os seus governos para que protejam seus oceanos. Mas é muito importante que os governantes saibam que as pessoas querem ver os mares protegidos.

E por estas duas frentes o Greenpeace está atuando. Primeiro com a iniciativa junto ao ator Javier Bardem. E depois a questão do estudo, da pesquisa que está fazendo. Vamos falar de cada uma delas, primeiro do envolvimento de uma estrela do cinema nessa iniciativa. O que é que se pretende e onde se quer chegar?

Nós tivemos o privilégio de ter o ator espanhol Javier Bardem aqui na ONU, se dirigindo diretamente aos delegados que estão negociando esse tratado no dia 19 de agosto.  O apoio dele aos oceanos não começa aqui, ele já foi para a Antártida no ano passado com o Greenpeace, justamente para testemunhar o que está em perigo. Eu acho que a partir do momento que você vê toda beleza e todas as ameaças que nosso planeta está sofrendo você também se torna responsável por advogar por essa causa.  Ele veio até aqui cobrar os governantes para que se comprometam com um Tratado Global de Oceanos forte, que seja capaz de protegera até 30% dos mares até 2030. Nós tivemos muita sorte de uma voz como a dele numa campanha que é uma campanha internacional. Sabemos que os mares não têm fronteiras, a natureza não tem fronteiras, então essa é uma campanha global do Greenpeace. A voz de uma pessoa como ele faz com que essa mensagem possa chegar a muitas outras pessoas.

Javier Bardem foi uma voz para os 193 Estados-membros das Nações Unidas. Que mensagem principal é levada daqui para esses líderes que muitas vezes não veem tão frequentemente filmes, mas sentem o impacto, por exemplo, dessas produções que são feitas em nível internacional e tem impacto global?

Ele fez um discurso muito bonito quando esteve aqui na ONU. E eu acho que a mensagem principal, pelo menos foi o que mais me tocou, foi a de que nós temos uma oportunidade única, com todos esses países reunidos, de fazer algo bom pelo planeta, de aprovar um Tratado Global de Oceanos que, de fato, consiga fazer a diferença para os nossos mares. E o que o Javier Bardem colocou de maneira muito bonita é que a gente não desperdiça essa chance. Temos essa chance nas mãos. Vamos aproveitá-la, vamos fazer o melhor com essa oportunidade que a gente tem agora.

Há também uma expedição internacional para criar maior sensibilidade e aumentar a consciência sobre os oceanos.  Qual será o impacto e o que se espera que, de fato, venha a mudar com essa iniciativa?

O Greenpeace está fazendo uma expedição de polo a polo. Estamos indo do Ártico até a Antártida para denunciar as principais ameaças que os nossos oceanos estão sofrendo e também para fazer campanha pela aprovação desse tratado. Sabemos que é às vezes é um tema mais técnico, que está acontecendo talvez muito longe da vida das pessoas, e que é difícil criar ou gerar a atenção para esse assunto. Então, o Greenpeace está usando um dos seus navios que é o Esperanza, para criar uma plataforma e gerar a atenção para esse assunto. Em parceria com os cientistas estamos investigando as principais ameaças que os nossos oceanos estão sofrendo desde plásticos, mineração em águas profundas, extração de petróleo e, claro, as próprias mudanças climáticas. Nosso navio acabou de sair do mar de Sargaço, que está justamente ameaçado por microplásticos e é uma região que é muito única. O Sargaço serve como um berçário para a vida marinha, para as tartarugas, mas é uma região que está ameaçada por concentrações de microplásticos semelhantes às do Pacífico.

É realmente muito chocante, e a nossa próxima parada vai ser nos corais da Amazônia que ficam ali na costa do Brasil e da Guiana Francesa. Estamos pedindo para que empresas não explorem o petróleo naquela região, porque tem um sistema único de corais que mal foi estudado. Um derramamento de petróleo ali poderia ter consequências terríveis, não só para a região, mas para toda a vida marinha.

A Amazônia é centro de uma outra discussão, outro fato. O que é que uma catástrofe nos oceanos naquela área, pelo menos, provocaria daqui a mais um tempo?

Como a gente estava conversando, no planeta está tudo conectado. Vemos uma situação como essa que está acontecendo na Amazônia agora e, os oceanos são algo que pouca gente discute, mas têm um papel muito importante na regulação do clima porque eles absorvem carbono. A gente sabe que oceanos saudáveis são uma das nossas melhores estratégias para lidar com essa crise climática que estamos vivendo. Eu acho que no momento em que a Amazônia está em chamas, temos que fazer tudo o que está ao nosso alcance para lidar com essa emergência climática e proteger os oceanos. Seria com certeza um passo muito importante.

Queria suas palavras finais para esta conversa. O Greenpeace, como uma organização ambiental, tentando puxar por este tratado que está sendo negociado por 193 Estados-membros, mas em paralelo fazendo iniciativas lá no mar e redes de comunicação em todo o mundo. No fim, com um tratado aprovado, qual seria a vantagem para quem nos acompanha nesse momento de conservar 30% dos oceanos em nível global?

Falamos em pelo menos 30%, mas a gente espera que possa ser mais. Acho que a nossa vida está completamente conectada com os oceanos. Por mais que estejamos muito longe, que não estejamos numa cidade perto da praia, o oceano tem um papel muito fundamental na regulação do clima. Tem milhões de pessoas, no mundo inteiro, que dependem dos oceanos para sobreviver e para se alimentar. Quanto mais a gente conseguir avançar nesse tratado global de oceanos, melhor para todos nós.

Assista a entrevista:


 (Via ONU News)

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