Gustavo Cabral: do sertão da Bahia para o mundo

Com três pós-doutorados, o cientista Gustavo Cabral integra a Equipe Halo, projeto que envolve dezenas de profissionais ao redor do mundo que trabalham com a pesquisa de vacinas contra a Covid-19 e outras doenças/Foto: Arquivo Pessoal

O cientista Gustavo Cabral teve uma adolescência difícil no interior do sertão da Bahia. Cursou três vezes o último ano do ensino fundamental porque acordava às 3 horas da manhã para trabalhar numa feira livre. Não conseguia acompanhar as aulas.

Com três pós-doutorados, ele hoje integra a Equipe Halo, projeto que envolve dezenas de profissionais ao redor do mundo que trabalham com a pesquisa de vacinas contra a Covid-19 e outras doenças. Os cientistas compartilham nas redes sociais como é o dia-a-dia no laboratório, tiram dúvidas e desmistificam informações incorretas sobre imunizantes.

Em entrevista ao Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (Unic Rio), Gustavo contou como foi esta transformação. “Até 19 anos eu não estudava. Eu ia pra escola, mas não tinha visão do estudo. Saí de casa aos 15 anos e fui trabalhar em açougue, sempre trabalhei em feira pública. É uma vida muito diferente da vida do Gustavo hoje”, conta.

Há 20 anos ele notou que as pessoas “estudadas”, como se diz no sertão baiano, tinham uma vida bacana. “Pensei: eles têm uma vida que eu quero ter”, relata. Pediu ajuda aos pais, pegou o suado dinheiro guardado e foi cursar o último ano do ensino médio numa escola particular. “Eu tinha 21 anos e o resto da turma tinha 16”, diz. O esforço valeu a pena: Gustavo saiu do povoado de Creguenhem, em Tucanos, para estudar Ciências Biológicas na Universidade do Estado da Bahia.

“Aquela foi a oportunidade da minha vida. Comecei a me envolver com a ciência e a educação transformou tudo. Saúde pública, iniciação científica, fiz mestrado na federal, PHD na USP, fui pra Oxford para fazer um pós doutorado acabei fazendo três! Acho que a educação me transformou totalmente”.

Gustavo Cabral, cientista

Viver o outro

O pesquisador trabalhou com saúde pública em comunidades quilombolas e com catadores de resíduos. “Quando a gente se abre para viver o outro a gente aprende muito sobre nós mesmos. É espetacular. Esta é a verdadeira evolução humana como ser social, capaz de colaborar com o próximo, de preservar a vida do outro, pelas bibliotecas humanas. Apesar desta tragédia toda, esta pandemia está nos fazendo repensar estas relações”, avalia.

Hoje Gustavo lidera o desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus no Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) e continua ativamente com o trabalho do time Halo. A Equipe Halo conta com o apoio do Verificado, iniciativa global da ONU na promoção de informações confiáveis sobre a pandemia e no combate à desinformação.

O pesquisador tem milhares de seguidores no TikTok , onde publica vídeos didáticos sobre a importância da vacinação.  “É uma oportunidade da gente se aproximar das pessoas, quebrarmos barreiras e os muros da universidade. Quando temos a sociedade ao nosso lado a ciência é muito mais forte”, explica.

(Via ONU Brasil)

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*