Pesquisadores criam método para reduzir impactos do petróleo no meio ambiente

Descoberta confere ao bioadsorvente uma notável capacidade de adsorver petróleo e seus derivados em águas costeiras e marinhas/Fotos: Divulgação

As buscas por soluções sustentáveis são importantes tanto para o mercado quanto no meio acadêmico. Um dos processos que está em crescimento dentro da indústria é a adsorção de poluentes – uma técnica rápida e altamente eficiente que promove a separação e purificação de misturas químicas, como o petróleo e seus derivados. Atualmente, os adsorventes mais utilizados são obtidos a partir de materiais sintéticos que, após a sua utilização, são descartados, resultando em outros tipos de contaminação ambiental. Mas isso pode estar perto de acabar.

Uma pesquisa comandada pela professora Ana Katerine Lobato e pelo professor Ícaro Moreira descobriu uma forma de bioadsorver o petróleo e seus derivados, de modo ecologicamente correto a partir de fibras de coco in natura e tratadas com líquidos iônicos próticos (LIPs). Devido ao caráter inovador das descobertas, foi solicitada e aprovada uma patente ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), para registrar essa inovação.

Os pesquisadores, que fazem parte do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química (PPEQ) UFBA-UNIFACS, é liderado pela professora Ana Katerine Carvalho Lima Lobato e conta com a participação da egressa da graduação em Engenharia Química da Universidade Salvador (UNIFACS) e atual aluna do PPEQ, Célia Karina Maia Cardoso, e dos professores da Universidade Federal da Bahia, Ícaro Thiago Andrade Moreira e Silvana Mattedi e Silva.

“Essa descoberta confere ao bioadsorvente uma notável capacidade de adsorver petróleo e seus derivados em águas costeiras e marinhas, além de poluentes orgânicos de origens industriais e domésticas. Validando a eficácia do bioadsorvente, simulações de derramamento de petróleo em ambientes marinhos, em escala laboratorial, revelaram resultados altamente satisfatórios”, revela Ana Katerine Lobato, professora da UNIFACS, integrante do Ecossistema Ânima.

A pesquisadora enfatiza, ainda, que essa capacidade demonstrada pelas fibras de coco in natura e tratadas com LIPs pode ajudar a minimizar os impactos ambientais decorrentes do lançamento desses poluentes em ambientes marinhos e costeiros.

Para a coordenadora do Programa de Pós-Graduação da UNIFACS, Caroline Spínola, a concessão da patente é um reconhecimento da qualidade da pesquisa desenvolvida pelas UNIFACS e a UFBA. “O Brasil precisa de pesquisa aplicada para a resolução de seus problemas e ficamos muito felizes em poder ser parte dessa contribuição”, afirma a profissional. Ela destaca, também, a importância da pesquisa, especialmente na Bahia.

Os professores Ana Katerine Lobato, Silvana Mattedi e Ícaro Thiago Moreira

“Sabemos da dificuldade que os pesquisadores brasileiros enfrentam para obter o registro de suas invenções em nosso país e de como é árduo todo esse processo. E essa conquista é ainda maior se consideramos que a Bahia tem ficado atrás dos outros estados do Nordeste em indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação, notadamente no que se refere ao depósito de patentes”, opina.

Ana Cristina Morais, professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química (PPEQ) UFBA-UNIFACS lembra que a concessão de patente é um trabalho rigoroso e longo e que a conquista comprova o grau de excelência alcançado pelo trabalho realizado no PPEQ-UFBA-UNIFACS. “A concessão da patente demonstra o fortalecimento da rede de cooperação UFBA e UNIFACS, além de devolver à sociedade conhecimento e tecnologias que inovem e tragam benefícios. Além disso, traz também uma visibilidade ao Nordeste, em especial à Bahia, como produtor de inovação”, diz.

Próximos passos

Segundo a professora Ana Katerine Lobato, a ideia para o projeto surgiu a partir de pesquisas realizadas pela doutoranda em Engenharia Química, Célia Cardoso, enquanto ainda era aluna de iniciação científica, sobre derrames e contaminações por petróleo, observando que os pelos dos animais adsorviam o petróleo, impactando negativamente a fauna da região afetada.

“Os pelos possuem poros e escamas capazes de interagir com o petróleo. Ao analisar a fibra de coco, percebemos que ela também apresenta características favoráveis para interação com o óleo, sendo abundante no Brasil, especialmente no Nordeste, na forma de resíduos sólidos”, conta.

Depois de conquistar essa conceção da patente, o próximo passo do projeto é a transferência de tecnologia.

Ainda segundo a pesquisadora, para aprimorar a capacidade de sorção, os pesquisadores utilizaram um solvente orgânico recuperável, causando menor impacto ambiental. Assim, considerando a economia circular, surgiu a proposta de utilizar um resíduo abundante (a fibra de coco) tratado como um solvente reutilizável (LIP) para recuperar outro resíduo (o óleo derramado).

Após conquistar essa conceção da patente, o próximo passo do projeto é a transferência de tecnologia. “Em regra, nesse processo, o que acontece é que as empresas que buscam por novas tecnologias acessam os bancos de patentes ou vitrines tecnológicas e manifestam interesse aos pesquisadores, para saber o grau de maturidade dessa tecnologia para ser produzida e comercializada”, informa. Esse processo de contato com as empresas engloba a negociação, parte contratual, efetivação do contrato, início da produção e, então, o pagamento dos royalties.

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