ONU: humanidade está perdendo batalha climática

Batalha climática está sendo perdida pela humanidade/Foto: Chris LeBoutillier/Unsplash
Batalha climática está sendo perdida pela humanidade/Foto: Chris LeBoutillier/Unsplash

O mundo não está nem mesmo na trilha de cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C, idealmente abaixo de 1,5°C. Se governos e empresas não mudarem de rumo, o planeta deve ficar de 2,4°C a 2,6°C mais quente até meados do século na comparação com o século 19, quando a poluição atmosférica se intensificou na esteira do uso de combustíveis fósseis. Atualmente, a Terra já está 1,2°C mais quente do que foi no século 19.

O alerta é do relatório Global Stocktake (GST) da ONU, a análise mais abrangente sobre o atual estágio do combate à mudança climática e os rumos que devem ser tomados para mitigar o problema.

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O documento revelado agora foi construído a partir de um processo de revisão acordado formalmente por quase 200 países. As consultas duraram 2 anos e tiveram um nível de contribuições sem precedentes, indo além dos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), focados na contribuição da ciência. O GST vai além do consenso científico, incorporando também a visão de líderes empresariais, agricultores, comunidades indígenas, sociedade civil organizada e funcionários de governo.

Embora o fracasso da humanidade em combater a mudança climática não seja em si uma novidade, o documento tem força ao estabelecer o momento histórico em que todos os países são formalmente advertidos e têm a oportunidade de agir conjuntamente em outro sentido.

Soluções propostas

O GST diz claramente que governos e empresas reconhecem que é preciso investir mais nesta década para enfrentar a crise climática. E reconhecem que a melhor maneira de reduzir as emissões rapidamente é impulsionar a energia eólica e solar, promover a eficiência energética e proteger a natureza.

O relatório técnico deixa claro que nenhum novo projeto de energia suja deve ser realizado, que o carvão deve ser rapidamente eliminado nos próximos 7 anos e que todos os combustíveis fósseis devem ser eliminados gradualmente nas próximas duas décadas. O documento diz que governos e empresas devem se concentrar em impulsionar os investimentos em renováveis – de 3 a 6 vezes mais em relação ao patamar atual.

Investir depois será mais caro. Os desastres climáticos já estão ceifando vidas e causando prejuízos bilionários. Isso está acontecendo porque governos e empresas têm sido muito lentos em eliminar os combustíveis fósseis e investir em adaptação. Os impactos da mudança climática sozinhos já estão empobrecendo pessoas, comunidades e países e diminuindo as expectativas de crescimento da economia.

COP28

O relatório foi publicado no dia 8 de setembro, e seu conteúdo informará os eventos de alto nível da próxima Cúpula do Clima da ONU, a COP28, que será realizada em Dubai, em dezembro. Antes, em 21 de setembro, uma reunião de ministros será realizada em Nova York para avaliar o texto, e duas reuniões serão realizadas em outubro, em Abu Dhabi, para encaminhar propostas para a COP28.

A ministra do meio ambiente da África do Sul, Barbara Creecey, e o ministro do clima da Dinamarca, Dan Jorgensen, foram encarregados de liderar as consultas do GST em nome da Presidência da COP28.

Se esse processo tiver êxito, ou seja, se os líderes globais entenderem a gravidade do que o GST está reportando, a declaração da COP28 indicará uma forma de aumentar rapidamente os investimentos em renováveis e estabelecerá uma data de expiração para o uso de combustíveis fósseis. Outro sinal de avanço será o apoio financeiro aos países mais pobres, garantindo que a natureza será protegida.

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Ausências

O GST reconhece que a proteção e a restauração da natureza são cruciais como sumidouros de gases de efeito estufa para a concretização do Acordo de Paris. E enfatiza como o consumo e a produção de alimentos contribuem para as emissões – históricamente, as negociações climáticas têm falhado em mencionar o consumo por alegadamente ser um tema “complexo”.

Apesar disso, o texto não fala que a responsabilidade de mudar formas de consumir e produzir alimentos é principalmente dos países mais ricos. A necessidade de garantir que alimentos nutritivos estejam disponíveis para os mais pobres também é ignorada.

Em relação à natureza, o texto dá muita atenção às florestas, esquecendo de outros ecossistemas também importantes para o clima, como manguezais, zonas úmidas e turfeiras. Também não há menção sobre a necessidade de ajudar financeiramente os países ricos em biodiversidade.

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