Emissões de gases-estufa intensificaram El Niño e El Niña

Estudo publicado na Nature Reviews Earth & Environment demonstra que as emissões de gases de efeito estufa provavelmente tornam ambos mais severos desde 1960/Foto: Bureau of Meteorology

Por ClimaInfo

Há mais de 30 anos, pesquisadores do clima tentam descobrir se há ligação entre as mudanças climáticas causadas pelo homem e os eventos El Niño e La Niña, fenômenos naturais originados no Oceano Pacífico e que alteram o clima em todo o planeta.

Agora, um estudo publicado na Nature Reviews Earth & Environment demonstra que as emissões de gases de efeito estufa provavelmente tornam ambos mais severos desde 1960.

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Os cientistas tomaram como referência as mudanças nas temperaturas oceânicas e nas condições atmosféricas no Pacífico – conhecidas como El Niño/Oscilação Sul (ENSO, na sigla em inglês). A pesquisa analisou várias simulações produzidas por 43 modelos climáticos – simulações de computador do sistema climático da Terra.

Primeiro, compararam as simulações entre 1901 e 1960 com as de 1961-2020. A maioria dos resultados mostrou um aumento na variabilidade (ou seja, um afastamento da média) do ENSO desde 1960.

Emissões causadas pelas atividades humanas

Depois, os pesquisadores examinaram simulações climáticas ao longo de centenas de anos antes dos humanos começarem a aumentar as emissões de GEE e as compararam com as simulações após 1960, o que deixou ainda mais evidente a forte variabilidade no El Niño/Oscilação Sul.

Isso reforça a constatação de que as emissões de GEE de origem antrópica são mesmo as culpadas, dizem dois dos autores do estudo no The Conversation.

Com o agravamento do efeito estufa, os modelos mostraram que os extremos da temperatura da superfície do Pacífico se intensificaram em cerca de 10% a partir de 1960, relata o Guardian, o que explicaria o aumento da severidade de El Niño e La Niña desde então.

“Em termos práticos, isso se traduz em secas, inundações, ondas de calor, incêndios florestais e tempestades mais extremas e frequentes, assim como observamos durante o mergulho triplo de La Niña que terminou em março”, explicou Mike McPhaden, cientista sênior de pesquisa da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) e coautor do artigo.

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Líder da pesquisa, Wenju Cai, da agência australiana CSIRO, chama atenção não para o passado, mas para o futuro, destaca o ABC. “O aumento da intensidade [de El Niño e La Niña] já causou grandes perdas, que provavelmente vão aumentar ainda mais. [Esse estudo] é de grande interesse para os formuladores de políticas, gerentes de recursos e o público em geral. Nosso resultado deve inspirar uma estratégia de mitigação e adaptação, porque o aumento do ENSO e seu fortalecimento irão exacerbar os riscos econômicos do aquecimento global.”

Em tempo: “Os centros de nossas cidades, da forma como são construídos hoje, são armadilhas mortais.” A avaliação é de Eleni Myrivili, a primeira “chefe de calor global” nomeada pela ONU Habitat e pelo Arsht-Rock Resilience Center. Por causa das mudanças climáticas, que vêm elevando as temperaturas em todo o planeta, a especialista reforça a necessidade das cidades se adaptarem a essa nova realidade.

Em entrevista à Bloomberg, Myrivili diz que as cidades devem encontrar e financiar maneiras de resfriar suas temperaturas, inclusive trazendo mais água para a superfície e plantando mais árvores. Ela também quer ver as ondas de calor nomeadas e categorizadas – como é feito com os furacões –, para que as pessoas possam entender sua gravidade. “Chamamos o calor de assassino silencioso. Devido a todos os eventos climáticos extremos ligados às mudanças climáticas, o calor é o assassino número um”, ressalta.

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